sábado, 26 de dezembro de 2020

Plantas Mestras Kokama: Ayahuasca, Toé, Chacrona, Sanango e Coca.

1. AYAWATSKA
Nome da planta em Kokama: Chichipu ou Ayawatska.
Nome da planta em Quéchua: Ayawaska.
Nome da planta em Espanhol: Ayahuasca ou Yajé.
Nome Científico: Banisteriopsis caapi.
Família: Malpighiaceae.
Descrição botânica da Ayawatska: Cipó com rama cinza ou amarronzada; folhas simples de forma elíptica com ápice agudo e duas glândulas na base; inflorescência axilar em forma de umbelas paniculadas com quatro flores de cinco centímetros de tamanho. Precisa de um suporte para crescer. Reproduz-se a partir dos tálos. Produzem abundantes folhas e cipós no solo argiloso com bastante matéria orgânica e em solos escuros da terra firme, várzea e restinga. Este cipó é conhecido por muito como planta mestra e fonte de conhecimento e sabedoria. A ingestão da bebida preparada com o cipó é um estimulante para a geração de conhecimentos através de sonhos, visões e percepções sobre suas propriedades curativas e as de outras plantas. Usamos três tipos de Ayawatska: trueno, cielo e rosário.
2. MARɨKA
Nome da planta em Kokama: Marɨka ou Marikawa.
Nome da planta em Quéchua: Puka wantu ou Huantuc.
Nome da planta em Espanhol: Toé.
Nome Científico: Brugmansia suaveolens.
Familia: Solanaceae.
Descrição botânica do Toé: É uma arvore pequena que mede até aproximadamente 2,5 metros de altura. Seu talo é fino, liso, suave e de cor branquejado. Suas folhas são elípticas, largas, assimétricas e é a base agudas ao ápice. Suas flores têm forma de sino, cálice tubular e largo, coroa branca ou amarela alaranjada. Propaga-se por feixe de talo e rama. Cresce em terrenos planos, em terreno baldio, chácaras, roças, hortas ou qualquer outro meio onde não tem árvores grandes e o solo é de cor escura e de boa drenagem.
É uma planta conhecida como trombeteiro (trompetero), uma árvore pequena de folhas ovuladas assimétricas na base e agudas no ápice, que possui flores pendentes de cor branca ao vermelho claro. Arbusto de 1,5 a 3,7 metros de altura. É uma planta aditiva da Ayawatska com grande poder de visões e limpeza mental. Uma pequena quantidade pode deixar a pessoa conectada com plano ancestral por muito tempo (três dias) e se tomar em excesso a pessoa pode ficar louco. Para nós o Toé é uma planta que pode fazer ver o oculto. Depois de tomar o Toé se deve seguir uma dieta rigorosa, senão se pode se tornar um louco.
A folha se utiliza para tomar, fumar, abanar irritados, fumigar ou colocar na parte que dói. A planta é semeada na esquina da horta, serve de proteção contra as feitiçarias. Não deve usar a pessoa que não conhece o efeito. A planta mesma cura. Os Sábios curandeiros colhem as folhas situadas a oeste da planta e fazem em segredo (sem que ninguém os veja), em jejum e no momento de colher diz um discurso pedindo que ajude a fazer ver de que as pessoas estão doentes ou que problemas têm. A toma de Toé se faz sempre pelas noites e em lugares silenciosos.
Para tomar Toé se colhe aproximadamente de 15 a 20 folhas localizadas ao leste e ao oeste da planta. Coloca-se em uma panela média com cinco taças de água e três pedaços de Ayawatska logo se fervem até que o conteúdo líquido fique somente uma taça.
O remédio se toma em pequena quantidade (meia unha), do contrario pode causar a morte. Depois de tomar o Toé não pode come sal, pimenta, manteiga e não se dorme com mulher. Para abanar o doente ou parte irritada, não se deve fazer nenhum preparativo, apenas abana o enfermo com a rama fresca de Toé. Para pedir a mãe do Toé, que ajude a fazer ver de que estão enfermas as pessoas e pede favor para que os cure. Pode-se dizer, por exemplo: “Mãe do Toé, mãe das plantas curativas, é uma planta cheia de força, minha família está enferma. Com tua força quero que os cure, por isso te digo para que me cure a mim enfermo também”. Puf, puf, puf,… se usa uma shakapa confeccionada com folha de SHAKAPA PANKA para chamar a mãe das plantas para a cura. Em troca se lhes dar cigarros ou também se faz um ikaru para a planta, para que siga com bastante força e que não morra. Se diz isso em um lugar que se transforma em lugar silencioso.
A mãe do Toé é que protege o tronco, cada tronco de Toé tem seu dono, ou seja, é a mãe Elemental que vive dentro do Toé. Também o Toé é um espírito que cura e é médico ancestral. A pessoa que não conhece também pode tomar, sempre e quando um Sábio der de tomar e o cuidar. Pois uma pessoa que não sabe e quer relacionar-se com o dono do Toé e quer ver algo que se tem perdido ou estão fazendo dano, ou pode rogar ao dono do Toé, para que o faça esse favor.
Vá a sua roça e enquanto o conta o problema que está passando, a pessoa, que pode ser homem ou mulher, colha as folhas da cria de dono de TOÉ, uma ou duas folhas, e os leva a sua casa. Coloca as folhas debaixo de seu travesseiro e essa folha faz sonhar a pessoa e diz todo o que o homem ou a mulher o pediu por meio de sonhos.
3. SHAKRUNA
Nome da planta em Kokama: Shakruna.
Nome da planta em Quéchua: Chaqruy.
Nome da planta em Espanhol: Chacrona.
Nome Científico: Psychotria viridis.
Família: Rubiaceae.
Descrição botânica da Chacrona: É uma planta perene, conhecida também como SAMI RUCA, contem grande quantidade de triptaminas psicodélicas e se conhece melhor por seu poder curativo como aditivo da Ayawatska. Os efeitos podem descrever como uma limpeza física e mental e ao mesmo tempo uma conexão de quatro horas com o plano ancestral. Planta da família do café, produz visões e é fonte de DMT. Sua missão é fazer que tomemos consciência através das visões que ajudam a gerar soluções de todos aqueles problemas que não funcionam ou não dão certos em nossa vida. Desta maneira esses elementos vivenciais que estão em nível do subconsciente são trazidos ao nosso presente. Todo ele nos dispõe a compreensão dos mecanismos que vão permitir realizar a mudança.
4. CHIRITSANANKU
Nome da planta em Kokama: Chiritsananku.
Nome da planta em Quéchua: Chiric Sanango.
Nome da planta em Espanhol: Sanango.
Nome Científico: Brunfelsia grandiflora.
Família: Solanaceae.
Descrição botânica da planta Sanango: Planta arbustiva que chega a medir até 4 metros de altura. Seu talo cilíndrico apresenta numerosas ramas; de suas folhas alternas, alargadas e frondosas que exala um aroma cheiroso. Suas flores pediceladas atrativas têm uma corola tubular em forma de sino, de cor roxa nas bordas e branco na parte inferior. Seus frutos em cachos têm forma redondeada. Cresce bem em terrenos ricos em matéria orgânica, onde o solo é escuro e mantêm certo nível de umidade, como buritizal, restingas e também em terra firme. A Chiric Sanango é indicada para: anti-reumática, artrites, tira o frio, dar sorte em casa, tira o frio do coração. Faz conexão com o EU interior. Torna a pessoa sensível e reflexiva. É uma planta mestra da família dos Sanangos, o qual deriva de palavra quéchua “CHIRIC” que quer dizer “FRIO”. Entre os Sábios curandeiros é conhecida como planta que “TIRA O FRIO”, utilizada no plano físico para curar aqueles corpos friorentos, que sofrem de mãos e pés frios, com pouca circulação e corpo intumescido. No plano psicológico é uma planta que serve para curar o “FRIO DO CORAÇÃO” manifestando durante a noite em sonhos de alto nível compassivo. Amassa-se a raiz com cachaça em uma boa porção e é colocado numa garrafa durante oito dias, depois se agrega mel e se toma durante o dia.
5. KUKA
Nome da planta em Kokama: Kuka.
Nome da planta em Quéchua: Hambi panka.
Nome da planta em Espanhol: Coca.
Nome Científico: Eritroxilium coca.
Familia: Eritroxiláceae.
Descrição botânica da Coca: Arbusto perene que cresce até 3 metros de altura. Tem folhas simples, pequenas e alternas; suas flores são brancas e seus frutos, pequenos e esféricos, são de cor vermelho. Se propaga mediante sementes e estacas. Cresce bem em terras altas onde o solo é de coloração escura. No Brasil está planta é proibida. Ao mastigar a planta de coca serve para acalmar os ânimos e refletir, antigamente era usado para caçar, se mastigava para conseguir chegar perto da caça para pedir autorização para matá-lo para o alimento da comunidade e também para não sentir fome imediata durante a caçada. Também é um aditivo da Ayawatska, mas só podem ser colocada na Ayawatska por quem sabe bem a quantidade exata e como no Brasil é proibida, no nosso preparo não contêm coca. Mas a coca é a base de toda medicina Kukamɨe-Kukamiria milenar, por isso somos os donos da coca, somos os descendentes da coca. Se cozinhar a coca serve para diversos males como dor de dente, para cólicas, para dor de moela, dor de estomago. Explicando melhor o termo de nosso povo, que vem dos afazeres da medicina com coca que era base de tudo na questão da medicina ancestral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Agora sabemos que “Kuka” é “coca”. Já a palavra “Mɨ” é “descendente”, que vem de “Mɨmaran” que é “planta já criada”. “KUKA+Mɨ” = “Kukamɨe”, “descendente da coca ou que protegiam a coca já criada (KUKAMɨE)”.
Nesse caso aparecem os mais tradicionais falando que eles são os verdadeiros descendentes da coca e ai acrescenta o “RIA” na palavra “KUKAMɨE”, ficando “KUKAMIRIA”, para ser eles os verdadeiros, autênticos, próprios, legítimos e puros descendentes da coca. Que emprestando essa palavra do Quéchua seria KIKIN, mas na nossa língua é RIA.
Apesar de algumas palavras diferentes ou encurtadas do idioma Kukamɨe, os Kukamiria tem as mesmas nações Kukamɨe.
E para evitar desentendimentos para provar que apareceu primeiro, aprovamos em grande assembléia geral realizada em Tabatinga-AM, de 25 a 27 de agosto de 2017, o nosso reconhecimento étnico como Kukamɨe-Kukamiria, e decidimos colocar as palavras num só dicionário, em vista que nosso idioma sempre conviveu bem com palavras de outros povos como Quéchua, Inca, Maia, Tupinambá, Guarani, Tupi e Tupi-guarani, porque não unir o útil ao agradável, unir as duas línguas Kukamɨe e Kukamiria e ficar somente como nosso idioma Kukamɨe-Kukamiria.
Já a palavra “KUKAMA” ou “KOKAMA” não soa bem aos ouvidos dos falantes maternos que ainda estão vivos aqui no Brasil, eles nos falam que a significa “coca espírito ruim”, “coca não pura”, “coca pessoa ruim”. “Ma”, significa “espírito ruim” ou “não legitimo”. “Mau”, significa “dor de olho”.
“Mai” significa “mestiço”. “Mai” é “espírito ou alma de um animal, árvore ou pessoa”.
“Maitsankara (abreviado fica MA)” é “espírito mal”. “Mati” é “espírito mal de uma pessoa viva”. Para acabar com esta interpretação que não agrada os falantes e por respeitos aos nossos anciãos sábios decidimos aprovar como eles acreditam ser melhor para nossa ancestralidade, Kukamɨe-Kukamiria.
Este termo já vinha sendo pesquisado e recomendado pelos patriarcas caciques gerais, mas precisava de uma grande assembléia para sua aprovação, com a ajuda de Deus e a união de todos foi realizado para garantir o fortalecimento ancestral e de nossos membros ainda neste plano material.
As plantas chamadas Mestras (plantas sagradas) por nós são aquelas que nos cercam ao mundo dos elementais e espíritos que nos brindam conhecimentos ao que ingere. Revelam e mostram aquilo que está oculto em nós. Alem disso, são utilizadas por sua propriedade medicinal que aliviam ou curam determinadas doenças.
Agradecemos de modo especial aos nossos Taitas, por todos os conhecimentos deixados a nós, por Vicente Samias, Benjamin Samias, Antonio Samias, Francisco Samias e agora sob minha responsabilidade de Edney da Cunha Samias, como atual Patriarca Cacique Geral do povo Kukamɨe-Kukamiria, que sempre falo: “somente todos nós unidos é que podemos decidir sobre nosso povo, ninguém pode decidir e nem autorizado a representar nosso povo sozinho. Somos um povo antigo e ancestral. Estamos sempre cercados de nossos ancestrais”.
A Ayawatska pediu para nossos pais, nossos ancestrais nos camuflarem para poder resistir e hoje podemos gritar ao mundo que estamos aqui, resistimos e existimos. Nos tempos passados, a língua deveria ficar em segredo, não poderiam ensinar a todas as nossas crianças, pois a Ayawatska mostrava o passado, o presente e o futuro, e eles sabiam o que o futuro havia de acontecer, era preciso se guardar para pode não deixar de existir.
Nossa língua resistiu e existe, já estamos ensinando nossos jovens. Nossos conhecimentos resistiram, nosso rituais, nossa cosmovisão, nosso grafismo, nosso modelo arquitetônico, nosso modelo de governo, nossas comidas e bebidas, nossos colares, nossos cocares, nossas pulseiras, nossos perfumes, nossos amuletos, nossos ikaru, nossas mariata, nossas roupas, nossas armas, nossas cerâmicas e etc. tudo resistiram e existem ainda hoje para as futuras gerações.
Não estamos falando em conhecimentos das teorias dos não-indígenas, estamos falando de nosso conhecimento milenar Kukamɨe-Kukamiria.
Estamos falando em Kukamɨe-Kukamiria.
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Um comentário:

  1. Não há riqueza maior que o os saberes do nosso povo kokama. Gratidão pela oportunidade.

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