sábado, 26 de dezembro de 2020

O RITUAL DA TOMA DA AYAHUASCA: A Ciência do desconhecido.

Por Edney da Cunha Samias
Patriarca Cacique Geral do Povo Indígena Kokama.
Sempre deve ser de maior interesse para o verdadeiro iniciado, Mestre ou Sábio (Taita que é um Médico Tradicional), com verdadeira devoção, fé, vontade, com uma verdadeira madureza mental e equilíbrio, elaborando um nível espiritual de ritos em toma da Ayawatska (Ayahuasca). Trabalhamos com espíritos e elementais da natureza e celestial, sempre respeitando os pontos cardeais. Pois o povo Kukamɨe-Kukamiria (Kokama) sempre observou os astros, constelações, sol e lua para ligar com as ações da mãe natureza.
Usamos para nosso Ritual, três tipos de Ayawastka: trueno (para Mestres), rosário (para discípulos) e cielo (para iniciantes e a população interessada).
O ritual da Ayawatska Kukamɨe-Kukamiria é secreto, os uso dos instrumentos, materiais, perfumes, shakapa (espada de folha), colares, amuletos, pulseiras, cocás, ikaru (cânticos), conjuros, rezas e maria (orações) não pode ser divulgado para livros, pesquisa ou divulgação publica, somente para os interesses dos participantes. Os segredos são transmitidos de Mestre para discípulos.
A Ayawatska é um cipó alucinógeno, que adquiri ou possui os domínios da Medicina vegetal, que só conhecemos por meio dos elementais na toma da Ayawatska. Que cura toda classe de enfermidades, doenças musculares, abstratas (que não se ver) ou resfrios (artrites, artrose, mau gênio, temor, medo, incertezas), penárias que habitam dentro de nosso ser. Afasta as más energias, cura feitiçarias, bruxarias ou maldades. Atrai a boa sorte, no amor, na saúde, nos negócios, nos estudos, brindando o equilíbrio mental, psicológico, emocional e moral. Descobrindo o passado, presente e futuro.
O povo Kukamɨe-Kukamiria é um povo antigo, de rituais secretos para combater as coisas ruins da terra e das pessoas. Temos uma língua materna com influencias das línguas Tupinambá, Inca, Maia, Quéchua, Guarani, Tupi, Tupi-guarani, de onde saem poderosas orações (maria) e cânticos (ikaru) que curam.
O nosso sistema médico tradicional tem papel de sabedorias de curas através da plantas, pedras e animais da terra, da água e do ar, elementais como fogo, vento, água e conhecimentos equivalentes a bruxarias, associada na toma de substâncias medicinais através dos quais se buscam produzir curas, e alguns poucos procuram distorcer e fazer danos a outras pessoas.
A ingestão deste tipo de substâncias, não limitada apenas a Ayawatska, pois se toma a bebida de colondrina (de fidelidade), bebida de Kamarunka[Kamalonga] (purificação e cura interna), tem um papel importante para a aquisição de conhecimentos, não só medicinais, mas no amor, na sorte, nos negócios, desenvolvimento das pessoas e a limpeza do corpo.
Temos um costume de respeito às plantas, aos animais, as pedras, ao rio, a água, a chuva, etc.
Por isso devem evitar usar os nomes dos animais, das pedras e das coisas como nossos nomes civis, pois ninguém pode saber as nossas defesas, as nossas arcanas, as nossas proteções e nossas armas espirituais. Todos os nomes mudam na língua Kukamɨe-Kukamiria, por exemplo, se seu nome é MIGUEL, em nosso idioma fica MIJIRI. Procure um falante que ele vai traduzir o seu nome de acordo com nosso idioma e você vai manter em segredo a sua defesa e vai manter protegido o seu verdadeiro EU interior.
Nosso costume de aprendizagem inicia na família na mais tenra idade, observando os pais e os avós e recebendo informações sistemáticas sobre os usos e preparação de remédios.
No Brasil, poucas famílias Kukamɨe-Kukamiria detêm esse conhecimento e costume de repassar para os descendentes, restrito a família Samias que detêm todo o conhecimento da língua, danças, do ritual da Ayawatska e toda nossa cultura milenar.
Temos diversas técnicas terapêuticas, temos um repertorio relativamente amplo, entretanto aprende a familiarizar-se com as plantas de uso medicinais e a conhecer as chaves para o nosso beneficio.
O Doutor Ayawatska é um espírito dono da Ayawatska. Cada cipó tem seu dono e o espírito vive dentro da planta de Ayawatska. Quando o cortam morre o espírito.
O Doutor Ayawatska é um espírito médico indígena, pois quando se quer aprender a maldade, o espírito ensina a maldade, por isso deve ter muita responsabilidade em tomar Ayawatska, pois pretender somente fazer o bem, somente curar e proteger as pessoas.
O Avô Ayawatska protege a suas crias, quando as pessoas cortam a suas crias para tomar e fazer medicina sem o devido conhecimento ancestral. Por isso, se deve pedir autorização ou rogar quando se corta o cipó. Se não o avô Ayawatska fecha com seu poder e a pessoa lhe faz doer todo seu corpo. Só uma pessoa que sabe e que é médico tradicional ou sábio indígena pode curar.
Para pedir sua colaboração e cortar seu cipó, se pede enquanto com sua mão toca seu tronco, converse com a planta com fé. Com voz de súplica e com uma melodia diz, por exemplo: “Avô Ayawatska, dono da Ayawatska, Avô Ayawatska, dono da Ayawatska, daí-me sua mão cheia de seu Espírito forte, eu cortando vou levar, pois não em vão, meu irmão está enfermo, por isso, estou levando tua mão. O senhor vai curar, Avô Ayawatska, para que ele seja como o senhor, forte, porque o senhor nunca adoece, Avô Ayawatska. Awita/Awitse”.
Faz-se esse pedido durante a madrugada e deixa um pires ou tacinha de barro com tabaco socado para colocar no tronco da Ayawatska como pagamento do pedido.
É importante reconhecer que a Ayawatska é uma planta que tem uma mãe poderosa. Para preparar remédios se usa o cipó e se ingere, maiormente como purga. Os médicos curandeiros (médicos tradicionais) o usam para salvar a vida de familiares, para ver o passado e o futuro, casos de roubos, traições e danos causados por algumas pessoas ou espíritos.
Só pode oferecer a Ayawatska uma pessoa que sabe o ritual milenar de nosso povo, um Mestre tradicional.
Quando se toma a Ayawatska pode ver a mãe que sai do ombro com seu instrumento, com kena (flauta), tutu (tambor), shakapa (material feito de palha).
O sábio que extrai o cipó deve sair bem cedo, sem ser visto. Uma vez no local, ele faz o discurso ao Elemental da Ayawatska pedindo que o dê poder. É importante e ideal de que quem extrai o cipó, seja a mesma pessoa que plantou a Ayawatska.
A preparação está sob responsabilidade de uma pessoa adulta que conhece a técnica do cozimento e refinamento.
Podemos tomar só Ayawatska sem misturas. Mas durante o cozimento da Ayawatska, podemos também mistura com folhas de toé*, chacrona** e outros, mas por segurança não podemos dizer a quantidade exata aqui usada por nosso povo, que é secreto e milenar. Outros povos que também cozinham e tomam a Ayawatska colocam suas quantidades de folhas, mas não são iguais aos nossos.
Para convidar as pessoas ou preparado ou curandeiro primeiro faz um Ikaru e canta para chamar e pedir autorização ao Elemental, depois antes de beber um copinho de purga faz a oração inicial aberta a todos e pedidos pessoais interiores em silencio, ao final a pessoa fala: Saúde!!! Todos respondem: Deus te abençoe!!!
Antes de tomar Ayawatska não se pode comer pimenta, porco e sal, nem ingerir bebidas alcoólicas, nem fazer sexo e nem comer muito para evitar os vômitos em excesso.
Quando uma mulher tem tido filho recente só se pode tomar Ayawatska em pequena quantidade chamada pishkuwatska.
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