sábado, 26 de dezembro de 2020

NOSSA OKA KOKAMA

Uka Kukamɨe
Por: Edney da Cunha Samias, Patriarca Cacique Geral do Povo Indígena Kokama do Brasil, sucessor do Patriarca Cacique Geral do Povo Indigena Kokama do Brasil Francisco Guerra Samias.
Antigamente, quando existiam os primeiros Kokama, nós habitávamos um modelo arquitetural próprio, era uma oka grande (uka nuan) no meio da comunidade e as demais oka menores (uka misha) ao redor da oka grande, ao todo eram 7 casas pequenas e uma grande ao centro. Sendo que, as casas pequenas eram para os afazeres diários, para os ofícios de cada família (nação) e a casa grande era para todos dormir, todos passarem a noite. Ninguém dormia nas casas pequenas.
Não podia cortar os cabelos das crianças, quando a criança homem completava sete anos de idade, eles faziam o ritual de pelação do novo guerreiro, faziam varias tranças no cabelo, cada participante da comunidade dava um presente, a mexa de cabelo da coroa da cabeça era cortado por ultimo, pelo casal que seria uma espécie de padrinho da criança e que daria um presente de maior valor para a vida da criança.
As meninas só cortavam as pontas dos cabelos aos sete anos de idade, ritual da corta de ponta do cabelo e cortar dos cabelos da nuca, mas não carecava as meninas, depois de mais sete anos viria a primeira menstruação, nesta ocasião somente as mulheres podiam participar do ritual do primeiro sangramento, a menina ficava amarada por uma espécie da rede no oitão de uma das casas e os homens não poderia ver ou falar com a menina.
Mas ficavam alguns guerreiros que eram escolhidos para ficar guardando pelo lado de fora dessa pequena maloca escolhida para guardar a menstruação, nesse caso varias mulheres ficavam dormindo com a menina na pequena casa.
Os meninos aos sete anos eram tirados da família para serem treinados pelos guerreiros e pajés ate os 14 anos de idade, nas artes de luta, de artesanato e de cura e só voltava para família quando estavam preparados para lutar e trabalhar.
As comunidades antigas eram de sete famílias, ou seja sete casas, assim aparecia novos casais e quando somava mais novos sete casais eles deveria ir buscar outro lugar para fazer mais sete okas e a comunidade anterior ia lá ajudar a construir a nova comunidade.
Na primeira comunidade kokama eles tinha um diamante que ficava numa caverna para chamar as novas comunidades, quando tocava uma vez, era para avisar que iriam fazer ajuri em alguma comunidade, colheita, construção, caça, era para ir os homens, artesãos, agricultores, caçadores, cozinheiros, pajés e etc., quando tocava 2 vezes era festa, casamento, nascimento ou velório, era para ir todos os moradores, e quando tocava 3 vezes era para ir para “guerra”, pois havia invasão ou ameaça, era para ir os guerreiros e guerreiras Kokama, dominadores de armas de madeira, dominadores de arma de metal, dominadores do fogo, dominadores de armadilhas, luta corporal, dominadores de veneno, antes de tudo, o pajé sempre fazia ritual de proteção a todos e o pajé ficava com outra equipe para proteger as mulheres que ficavam.
Segundo me contou o pajé supremo Mauro Moçambite, “nossa oka tradicional era um lugar que ligava nós e Deus, pois a ponta fina da maloca ligava a natureza pela ponta, ao tomar Yahuaska havia uma conexão com Deus, dentro da oka a conexão era mais fácil e ai ele mostrava onde estava a cura na natureza de alguma doença, ensinava cânticos de cura (ikara) e presumia o amanhã também, por isso nos existimos até os dias de hoje.Não podia ter abertura de nenhum lado, somente uma entrada, que era fechada por dentro, que havia uma forma de se esconder no oitão da oka em caso de surpresa de inimigos ou animal feroz”.
Hoje a oka grande (uka nuan) é local de aprendizagem, de ensinar fazer cerâmicas, fazer remédio de plantas, fazer armas de caça e pesca, dançar, treinar luta corporal com arma e sem arma, lugar de brincar, lugar de festa, lugar de oração, lugar reunião.
Nossa oka grande é lugar tradicional de manter viva nossos saberes milenares.
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Maniatipa na Chira?